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Gráficos


Os gráficos cumprem papéis distintos ao longo da pesquisa: no primeiro momento, eles são seus amigos para lhe ajudar a encontrar gremlins. Ou seja, aqueles erros de digitação ou coisas estranhas que costumam invadir os seus dados. Um histograma é o meu predileto. Se você observa picos esquisitos em alguns, vale a pena olhar com cuidado os dados-fonte. Às vezes, valores como 88888888888 ou 999999999 são usados para representar valores em branco ou não disponíveis. Um graficozinho inicial, ao revelar erros de importação, já me salvou de boas horas ou dias de trabalho. Quando você estiver confiante de que seu banco de dados está limpinho, é hora de entrar no processo exploratório de dados. Nessa fase, você busca padrões, relações entre variáveis, diferenças relevantes entre períodos ou qualquer coisa que possa ser importante para o seu problema de pesquisa. Ao longo de sua pesquisa, faça gráficos e os faça em quantidade. Guarde aqueles mais relevantes e que lhe dizem algo.
Finalmente, na hora de escrever o trabalho científico, considere os gráficos como um espaço nobre. As pessoas adoram ver figuras e já esperam que os seus gráficos apresentem o problema central, o seu argumento básico ou o resultado significativo. Raras imagens valem mais do que mil palavras. Só inclua os gráficos que contarem uma boa história. Tal como no texto, os gráficos devem transmitir a mensagem principal sem embromação, nem exigir esforço do leitor. Então, entre os gráficos que você acumulou ao longo da pesquisa, escolha os que tenham uma mensagem principal. Se estiver com dificuldade em identificar tal mensagem, talvez não deva incluir os gráficos. Lembre-se também de explicitar essa mensagem no texto do trabalho.
Supondo que você já sabe qual mensagem transmitir e o gráfico preliminar está feito, agora, é a hora de aparar as arestas virtuais. É impressionante que existam pessoas tão cuidadosas com a qualidade do seu texto, que passam horas em um parágrafo, mas que gastam apenas trinta segundos com o gráfico default do software, sem nenhuma reflexão. Capriche no visual, pense nas escalas e em tudo que possa facilitar a vida do leitor.
O primeiro passo é escolher que tipo de gráfico fazer.

Torta/Pizza

Quando usar? Use para representar variáveis categóricas em que o total some 100%. Só use valores que foram medidos no mesmo período de tempo.
Dicas: Esse é um dos mais utilizados pelos iniciantes, mas um dos menos recomendáveis.Evite ter fatias muito finas ou em número maior do que seis. O número excessivo de cores ou padrões dificulta a leitura correta do gráfico. Se necessário, agregue as categorias.

Barras

Quando usar? Variáveis medidas em com valores brutos (em R$ ou em toneladas, por exemplo).
Dicas: O valor bruto tem de ser o valor de interesse. Não use quando os dados originais são variações percentuais. Também não inclua muitas categorias de valores em um mesmo gráfico.

Linhas

Quando usar? O importante aqui é a variação e não o nível das variáveis.
Dicas: Passou de cinco linhas, especialmente se houver muitos cruzamentos, pense em outra forma de representação

Scatter (xy)

Quando usar? Ênfase na relação entre as variáveis x e y.
Dicas: Escolha bem o tamanho dos pontos. Quanto maior o número de observações, menor o tamanho. Havendo uma só categoria use pontos e não um daqueles indicadores que o Excel sugere. Nunca ligue os pontos. Identifique os outliers.
Coloque a variável independente no eixo X e a dependente no Y.

Orientações gerais

  • No Brasil, o padrão é usar títulos de gráficos bem caretas e frios. Algo do tipo: "Relação entre posse de armas por 100.000 habitantes e taxa de homicídios – dados municipais – Brasil -2010". Veja os nomes das tabelas do censo no site do IBGE para ver como eles fazem títulos muito precisos. Agora, nas apresentações, você pode ser mais relaxado e intitular o mesmo gráfico como "Mais armas, menos crimes". Em alguns meios acadêmicos, a tolerância com títulos mais relax é maior. Por via das dúvidas, seja mais conservador nos textos escritos do que nas apresentações.
  • Lembre-se dos rótulos nos eixos e as unidades de medida.
  • Prometa para mim que não vai usar o padrão do Excel 2003. Eu penso o quão infeliz era o funcionário da Microsoft que decidiu que o padrão de fundo do gráfico seria cinza e que a cor amarela nas linhas ficava bem. Rezemos pela sua alma. Nas versões posteriores, o problema ficou menos grave, mas ainda são bastante feios. Uma dica: na maior parte das áreas hard, o Excel é coisa de amador. Se o seu gráfico estiver com cara de Excel, o leitor imaginará que você não é um "profissa" do ramo. Qual software de gráficos usar então? Mais uma vez, tente ficar com a sua tribo e use aquele que os melhores da área usam.
  • Eu tenho problemas em ler gráficos em três dimensões (e muitos leitores também). A perspectiva torna mais difícil identificar as diferenças reais entre os valores. Evite 3D como se fosse a peste.
  • Sou contra o uso de gráfico para variações percentuais. Como você sabe, um aumento de 10% seguido por uma redução de 10% não nos leva de volta ao valor inicial. Um gráfico de barras ou de linhas pode dar essa impressão.
  • Sempre que possível, faça o gráfico já em escala de cinza, ou em um padrão preto e branco. Apenas poucas revistas têm impressão colorida e elas podem lhe pedir para transformar em preto e branco (ou mesmo cobrar de você por cada imagem colorida!). Não me venha com essa de dizer que precisa de cores para o seu gráfico. Se você tem de recorrer ao arco-íris é porque o gráfico está poluído. Simplifique.
  • Uso de escala logarítmica. Quando o importante for a variação da taxa de crescimento de uma valor é razoável usar uma escala logarítmica. Por exemplo, o aumento da população mundial, ao longo dos últimos séculos, foi tão grande que o gráfico com escala linear (não logarítmica) só mostra uma linha horizontal seguida de uma parede.
  • Para aprender o que não fazer, veja aqui os piores gráficos de trabalhos já publicados, com comentários em inglês.

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